domingo, 28 de dezembro de 2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Nostalgia antecipada do futuro passado.

     Aos poucos a casa vai ficando vazia. Os momentos presentes vão se transformando em lembranças e saudade, como vozes e risadas que se esvaem enquanto se distanciam no corredor atrás da porta fechada.
     Antes de tudo acabar, sente-se o fim e o medo que ele chegue. Como ao arrancar um band-aid da ferida curada. Você não precisa mais dele, você sabe que precisa se livrar dele e que vai doer. Não tem jeito, não adianta adiar, mas você adia mesmo assim por mais uns instantes, só pra ver se a coragem aumenta um pouco. O mesmo serve para depilação com cera. O sofrimento por antecipação é um mal quase inevitável. Apesar dele, nunca na história da humanidade, ter evitado qualquer mal.
     Agora tudo já está vazio. Menos o meu quarto e a minha cabeça. "Preciso empacotar tudo", penso. Mas não sei por onde começar. Talvez, mesmo, eu só não queira. Não, não... eu quero. Aceito a minha hora, acredito na certeza dela. É o apego que não deixa.
    Sobre o des-apego, por outro lado, foi o que mais aprendi nesse tempo. Não que eu o domine, apenas o reconheço muito melhor. À sua força, sua sabedoria, à sua dificuldade e sua íntima relação com a liberdade. E com o amor...
     Ah, o amor! Quanto mais o conheço, mais me encanto e o acho lindo e perfeito. E ainda há muito.  Há tanto! Ainda há o semfim do infinito. Ah, amor, você é demais! Espero sem pressa o substantivo virar verbo. Enquanto isso, a neve está chegando mais uma vez.