quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Cadê? (Gohstbuster)

     Cadê você e tudo aquilo que detesto? Cadê essa raiva que sinto por você não ser o você que sempre quis que fosse? Por você não ser minha mais perfeita criação. Ou talvez por ser. Por você ter sido criado por mim. Minha raiva de ti é a raiva de mim mesma que não te vejo porque você não existe.
     Cadê você minha paixão, meu amor? Minha paixão. Cadê você que não me procura porque não existe? Cade você que me abraça, mas não existe? Adoro quando você me abraça. Cadê você que me vê, mas não me enxerga porque só eu te criei pra que me olhasse de verdade? Cadê você e o cafuné do seu carinho imaginário? Cadê você com meu riso descontrolado que já se foi desde que te vi não haver? Me traga de volta o meu coração que não existe porque você também não. Amar nunca foi meu forte, depois disso, então...
     Me dê a mão, por favor. Adoro que pegue em minha mão. Você lembra daquele dia que pegou em minha mão? Eu queria aquele você para sempre. Mas a verdade é que vc não estava lá. Não pegou em minha mão. Não, não... Não foi você. Não poderia ser porque não habitas esse mundo real. Habitas o meu pesar. Mora na melancolia da minha alma de não ser. E de eu achar que nunca será. Nem em um dia. Em nenhum. Porque, de fato, nunca te vi com esses olhos que terra comerá. Ja te vi, mas nunca te encontrei; talvez como você nunca viu a mim (ou será que viu?).
     Ora, mas como te amo. E como é facil e doído dizer isso... Mas amo. Será possível, você? Mas amo. Adoro. E fecho os olhos por pensar nisso. E por sentir meu pesar. E suspiro desejando você ser. Esperando você ser você. E desejando você me desejar também.
     Não acredito quando tenho que dizer adeus. Quando tenho que desligar minha imaginação e mandar-te embora. E ver você dando as costas. E ver a porta se fechando e a luz se apagando e a esperança de um dia você ser real se esvair. É um tal de balançar cabeças e suspirar e balançar ainda mais em tom de reprovação.
     Meu tempo acabou, eu vi. Acabou... E o nosso? Ainda há de vir? Se um dia eu te conhecer como deveria ter acontecido, te direi. E direi tudo que vi quando pensava em você quando era outro.


21/11/2012

domingo, 14 de outubro de 2012

Lamentável

Sorrisos infinitos
Quais deles são verdadeiros?
Quantos?
São de papel
De cristal
Sorridos por fora
Para fora
Sorridos para serem

Mostrados
Sorridos
Para serem
Elogiados

Tristes sorrisos
Para serem
E só
Terem

Que me dá

De sentir
Impreenchível


Maquiagem do oco
Vazio
Por dentro
Rio
Mais ainda, choro
Mas ainda acredito

Veredicto
A morte dá
Na morte certa
A pá que enterra
No mesmo lugar
Sete palmos
Sério e duro
Sem espelho
Sem ensaio
Sem o outro

Ouro
Dos tolos
Bobo é você
E o seu sorriso
rri de si
Ti
Bobo da côrte

Faz que deixa e acontece
Sobre nada prevalece
É que os números vão dizer
"Quem dá mais?"
Quem?
Dá mais não...
Pra te ver passar e não
Lamentar.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Bullshit

     Ora, lhe menti, não sabe? Disse não quando era sim... Menti e me entendo por isso - se eu fosse eu, mentiria também. Ora, como não? Mentiria, sim! Bom, menti (e o dar de ombros) e ainda menti mal, mas acho que isso você não saberia dizer. Você não saberia dizer muitas coisas porque não saberia ver além. E também porque eu minto muito bem. Na verdade, não, mas sim, entende?
     Menti, você não viu? Fingi não ver aquilo que era mais claro que a luz do dia quando o dia nasce ou a luz da lua quando o dia morre. E pra ser sincera acho que você fingiu tanto (tão mal?) quanto eu e mentiu (mentiu?) tanto quanto eu. Me diga, então, mentiu ou disse a verdade?, porque isso eu gostaria de saber pra saber se tudo isso que acho é só o que acho que vc acha.
     Menti mesmo, veja que tolice, só pra que você não soubesse a verdade. Que tipo de pessoa faz isso? Todas, provavelmente... Apesar de tudo, menti certo, penso. E mentiria de novo. E diria não se me perguntasse se sim e diria que sim só se você dissesse que me ama.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

domingo, 27 de maio de 2012

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     De repente sinto. Sinto tudo fazendo sentido, existindo por um propósito. De repente não preciso parar para pensar no que vou escrever porque tudo já está escrito dentro de mim. De repente a vida pela qual vale a pena lutar surge e a vontade de fazê-la valer ainda mais se torna incontrolável. E ela não quer ser controlada, ela quer mais, ela se alimenta de si. O medo que se alimentava de medo, porque é assim que ele funciona, se transforma em ânsia, em desejo, em poder, intenção e reação, choro e grito que chora e sorri feliz de si. De repente levanto minha cabeça para a luz azul que ilumina meus banhos de pensar e sinto. Sinto a vida, sinto o sangue, sinto escorrer nas minhas entranhas, pulsar em meu cérebro, rasgar as minhas veias aquilo que não tem nome e só eu sei que existe quando existe. Aquilo que é o motivo de eu estar aqui, é o sentido da minha busca, aquilo que não se explica, que é de poucos, e quem o conhece, quem conhece essa sensação, não a troca por nada. A melhor droga já experimentada, o vício maior que a própria paixão, que é tão forte que se duvida existir algo mais intenso. Mas existe, e está aqui, agora (não por sua causa, dessa vez não é você que me leva, não é a sua correnteza; dessa vez eu nem te conheço). Existe em mim e é ressuscitada apenas por mim. Não se sabe por que, não se prevê quando, não há padrões, e é infinita. Como o pi.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Oxe, como era doce.

"Eu quero ver a paz
Quero ver a pose
Na situação quando acabar o que era doce
Oxe, como era doce
A situação vai agravar ou era pose?"


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Do you believe it in your head?

"I want something good to die for
To make it beautiful to live
I want a new mistake, lose is more than hesitate
Do you believe it in your head?"


Queens Of The Stone Age - Go With The Flow

quinta-feira, 10 de maio de 2012

terça-feira, 17 de abril de 2012

Será?

Porque poesia não se trata de rima
ou sequer de fazer sentido algum.

Isso é um poema
e você nem percebeu.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Nem consegui.

Nem consegui chorar
de tão feliz que estava.

E me satisfiz por descobrir mal saber
que ainda havia tanto a se sorrir.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Porque ele me faz melhor a cada encontro.

     Acredito que hoje é difícil encontrar alguém que seja uma pessoa de verdade, cem por cento pessoa, ser humano andante errante e que se aceite nessa condição. Todos somos um pouco robôs, zumbis, insatisfeitos conosco e com tudo mais ao redor.
     Trocadilhos à parte, Pessoa não era apenas poesia em forma de gente, ele era pessoa com "p" maiúsculo. E não apenas uma. Não me canso de admirá-lo e amar cada palavra que era o seu ser tão humano. Fico feliz todas as vezes que me encontro com ele.
     Sinto por não ter escrito muito nos últimos tempos, sinto falta e sinto muito. Às vezes venho aqui, ensaio alguma besteira, mas estou num momento meio mimado rebelde de me querer só para mim, querer o mundo para mim e sentí-lo, o máximo que posso, da forma que eu quiser (rebelde e mimada, eu disse). Talvez após esse momento de "captação", surja outro de produção; por enquanto deixo o Pessoa falando por mim.



Apostila
 
Aproveitar o tempo! 
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite? 
Aproveitar o tempo! 
Nenhum dia sem linha... 
O trabalho honesto e superior... 
O trabalho à Virgílio, à Mílton... 
Mas é tão difícil ser honesto ou superior! 
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo! 
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos - 
Para com eles juntar os cubos ajustados 
Que fazem gravuras certas na história 
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)... 
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões, 
E os pensamentos em dominó, igual contra igual, 
E a vontade em carambola difícil. 

Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos - 
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir... 

Aproveitar o tempo! 
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro. 
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto. 
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste. 
Aproveitar o tempo! 
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos. 
Aproveitei-os ou não? 
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?! 

(Passageira que viajas tantas vezes no mesmo compartimento comigo 
No comboio suburbano, 
Chegaste a interessar-te por mim? 
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter? 
Qual foi a vida que houve nisto?
Que foi isto a vida?)

Aproveitar o tempo! 
Ah, deixem-me não aproveitar nada! 
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!... 
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa, 
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha, 
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras, 
O pião do garoto, que vai a parar, 
E estremece, no mesmo movimento que o da terra, 
E oscila, no mesmo movimento que o da alma, 
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
Álvaro de Campos - 11/04/1928

quarta-feira, 21 de março de 2012

Na moral, chuva.

Cai aí, chuva, que hoje eu tô com preguiça de molhar a grama.
Na moral, o sofá tá massa, não me faz levantar daqui, não.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Nem tudo tem nome

Ora, ora, que agonia!
Ora, pra que tanto?,
que chega já.

Ora, que vontade de te ver.
E não sei se é a embreaguês do sono
ou da alma que me fazem dizer isso,
mas digo sem dó.

É uma curiosidade estranha de querer saber.
Te querer saber.
Sem quê nem porque;
como a arte que não se explica como se vive sem, nem profundamente porque é feita.

Quero te saber sem nota,
como uma canção de ninar que embala quem quase dorme.
Eu quase durmo quando ainda penso em você.

Queria guardar suas palavras
como quem guarda o tempo congelado empacotado
e poder revê-las quando quisesse.
Só pra lembrar.

Te sorrio palavras guardadas no tempo congelado empacotado.
E faço isso porque você as fez bonitas de (vi)ver.

Lembre de mim,
não esqueça, não.
Não esqueça de lembrar que te quero perto,
te ver de perto,
te sentir perto,
mesmo que esteja longe.





24/01/2012

sábado, 7 de janeiro de 2012

Algo de bonito que ainda não se conheça.

     "...Não é o comum conhecido, visto, descoberto, despido; é o contrário do contrário, é o avesso do oposto exposto. Água transparente de mar no Sol brilhante, que guarda nas suas profundezas algo de bonito que ainda não se conheça..."

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ano novo (novo?) de novo.

     Ah, resoluções de ano novo! Quando elas vão deixar de ser do ano que vem e ser do dia que é? As pessoas nunca vão cansar de fazer isso, não é? Promoter, eu digo, que daqui pra frente tudo vai ser diferente e a gente vai aprender a ser gente e que nosso orgulho não vale nada. Não é? Essa nostalgia/culpa pelos erros/vontade de mudar que parece tomar conta de todo mundo no mundo todo e todas as propagandas de banco que se tornam mais sentimentais do que já são (aliás, porque os comerciais dos bancos são tão profundas? Juro que em épocas de TPM já ensaiei umas lágrimas)... Natal e ano novo são datas fadadas ao amor ao próximo, em teoria, mas, na prática, quantos se sentem verdadeiramente tocados pelo desejo de um mundo melhor?
     Essa coisa de espírito natalino em fins de dezembro são como as cotas nas universidades públicas: mudanças necessárias, visto nossa sociedade desigual, mas temporárias, até que seja como deve. Assim, enquanto o governo dá educação de base decente igual para todo mundo (êta conversa batida...), é posta em prática uma medida que tenta dar uma maior oportunidade a quem não teve antes. Ok. Da mesma forma, enquanto a sociedade se reeduca para ser solidária e fraterna com o próximo doente ou carente, pedir desculpas e deixar orgulhos bobos de lado, dizer que ama como se fosse a última oportunidade, durante a sua existência, ela faz isso no último mês de um ciclo de doze. Ok? Tá...
     O problema surgiu quando o que era para ser apenas uma medida temporária se tornou um costume, as pessoas se acomodaram a ela e se esqueceram que existia um propósito maior por trás disso. Resolveram por achar que é o máximo ser 'bonzinho' nos finais de ano (apenas nos finais de ano) e acretitar que dá para se redimir pelo resto dele. Assim como nossos queridos dirigentes preferiram iludir que o sistema de cotas é a solução da ignorância, desigualdade e desemprego e fazem questão de mantê-lo sem se preocupar com a execução da segunda parte do plano, que na verdade é o plano em si.
     Ai, não sei... Me vejo cada dia mais desacreditada da capacidade humana de melhorar individualmente e em sociedade e isso me deixa muito triste. Mesmo. É tanta hipocrisia e falsidade e ódio, é tanto desamor... Passagens de ano são apenas passagens. E todo o resto que fica, fica como? Como pode? É tão simples amar, é tão bom... Vamos usar a cabeça, porque amar também é pensar. Vamos deixar a ignorância voluntária de lado. Repito o que escrevi há quase um ano, e só agora me dei conta de como são idênticos os textos, vamos esquecer as resoluções de ano novo, façamos resoluções de dia novo; é mais fácil planejar o que fazer em um do que em trezentos e sessenta e cinco. E mudemos, de fato. Por favor, obrigada.

Sério, não precisa tentar entender.

- Você disse azul?
- Sim.
- Mas isso é cinza...
- Eu sei. E por dentro é vermelho.
- Eu gosto de vermelho.
- É? Eu também.
- Agora, sim, azul.
- Não, não. Vermelho.
- Mas isso é azul...
- Eu sei.







Feliz ano novo!