sábado, 23 de outubro de 2010

De aquilo que nunca fiz...

Amor de Lua


Lua,
linda Lua
Minha Lua,
minha
Lua linda:
só minha,
minha Lua
Linda
Lua
Minha...

Minha?
Mas se todos a podem ter para si
como a tenho para mim,
Lua
como ser só minha
como?,
Lua linda
tão linda...
Tão de outro quanto minha.

Só de te ver,
Lua,
linda que é
Me faço e me deixo rir
E sorrir; te sorrir
um sorriso digno de ti.

Minha ventura,
se minha não pode ser,
Lua
É te ver
e te sentir,
Lua linda
E te pensar Lua
Minha, como se fosse.

Só minha
(Imagine só),
Lua linda.
Linda
Lua
Minha...

Arre!
Raia, dia!
Nasce, sol!
E ofusca essa lua
que ofusca meu pensar
Minha sensatez calejada,
coitada,
insensata que já é.

Chega dessa doce escuridão
(ah, sedutora ilusão
Doce que amarga a traição),
Chega dessa noite que só se faz dia
se você aparecer,
Lua
A vida é amarga,
Lua
E algum sentido isso deve ter.

A docura de te ter minha,
Lua linda,
Lua minha,
é ilusão brincando de ser verdade.

Ilusão
de te tocar,
Lua
Levitar,
Lua
É ilusão
de te alcançar...

Seu luar é minha paz,
Lua,
mas minha paz (infeliz descoberta de ti),
fonte da minha agonia.

Vai-te embora, Lua minha
Que minha não é
Ainda que linda,
Lua linda
Minha
Nunca será.



"E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isso! Abra as eclusas -
E basta de comédias na minh'alma!"

Álvaro de Campos

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ou não?

Antes de qualquer coisa, preciso dizer que essas palavras foram escritas quase sem sentir. Aliás, as escrevi porque senti, sim, mas foi um momento. Não necessariamente as tenho como filosofia de vida. De vez em quando, não sempre...


     "O que tenho a dizer é que as pessoas ficam burras quando se apaixonam. Não que seja efetivamente possível variar o QI de um indivíduo; hora alto, hora baixo, hora alto... Mas fica claro o quanto a capacidade de raciocínio e senso crítico se tornam limitados ou inexistentes quando isso acontece.
     Qual o problema das pessoas com o amor? Que é isso que exerce tal poder acima de todos os humanos? Existe mesmo algum tipo de metafísica no ato de se apaixonar ou é tudo arte da mente vulnerável e susceptível a qualquer olhar, qualquer elogio, qualquer toque? Existe metafísica no ato de se apaixonar? Durante a paixão e o amor, existe? Será a metafísica de se apaixonar, da atração de prótons e elétrons, a burrice que acomete a todos nós? Porque tantos escritores ditos e tidos como exemplos de inteligência se dedicaram e dedicaram suas canetas, seus papéis e suas palavras a essa embreaguês da alma?
     Embreagados, sim, é o que acontece. A suspensão momentânea da razão, do raciocínio, da capacidade de comportamento adequado. A suspensão do domínio que o homem tem, naturalmente, sobre o próprio corpo dando lugar ao alheiamento total, à incapacidade, à inutilização do pensamento, à vulnerabilidade a vontade do outro. Como se não houvesse vontade própria, não! Onde fica o instinto de sobrevivência, o egoísmo e a colocação das necessidades próprias, antes de qualquer outra, em primeiro lugar; onde fica, hein?!
     Dilemas criados e dramatizados com tanta intensidade, sim, verdadeiramente vividos com muita intensidade, e para quê? Para nada. Amar é nada e ser amado é breve massagem ao ego. Amar é nada, ser amado é tudo.
28/08/2010"


Isso soa um tanto de amargura da minha parte, entendo. Mas não por isso deixa de ser, ao menos, meia verdade nessa vida.


"Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada."

-Ricardo Reis

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quer maior verdade que o dizem os clichês?

     É verdade, eu vou escrever sobre isso. Me esforço para resistir há dias, me reprimi pela falta de originalidade. Lutei contra esse instinto de querer exclamar esse assunto que (não sei se fe ou infelizmente) ainda tenho em mim, mas não foi possível. Hoje, é improvável, se não impossível, não falar sobre política. E não preciso citar o período, muito menos o próprio dia, de eleição.
     Aviso desde o começo: serei clichê, não direi nada além do já sabido e minhas indignações parecerão vulgares... Não porque nasceram assim, mas porque em algum momento a sociedade (sim, sim, todos nós) a transformou em algo que não se põe mais valor.
     A gente passa a vida (e digo isso da minha vasta experiência de 20 anos incompletos) ouvindo os outros falarem que o governo não presta, que a política é um verdadeiro cagaçal e que nunca vai deixar de ser essa sujeirada que é. Quero dizer, uma criança, adolescente em formação acredita nessas coisas. Acredita no que todos falam porque, antes de tudo, é um indivíduo em formação, é uma esponja em potencial que absorve o que está ao seu redor. Por mais que essa criatura tenha um senso crítico avançado para sua idade fisiológica e mental, não há de contrariar tudo que aprendeu desde que nascera. Tive uma professora, daquelas que você admira até o espirro, que disse isso uma só vez e nunca mais esqueci: "a língua é a primeira forma de alienação do indivíduo". Ninguém que nasce e cresce no Brasil escolhe ter como primeira língua o japonês. Ninguém que se desenvolve nesse mesmo país tem como idéia de política o que ela realmente é ou a vê como uma coisa boa, uma fonte de melhoria de vida da população, de garantia dos seus direitos e exigência dos seus deveres. Como dizem por aí, muito pelo ao contrário, a tendência é dar continuidade a essa forma limitada do pensamento.
     Como é, então, que as pessoas vão acreditar no exercício da sua cidadania? (Quando foi que elas começaram a desacreditar dela? Não houve o tempo em que a população ia às ruas brigar por isso? A partir de que momento nos tornamos tão acomodados?) Como é que elas vão parar de fazer piada sobre seus candidatos e do possível bom caráter deles se foram programadas para enxergá-los como fonte de contradição e corrupção permanente? Quero dizer, quem não acompanhou a gargalhada da platéia na fala da candidata Dilma no debate transmitido pela Rede Globo? Não é a veracidade do que ela disse que está em questão, é a postura do indivíduo brasileiro frente a algo que é tão importante e que deve ser levado tão a sério e no entanto está aí, vítima de chacota em escala nacional. A ética virou utopia, seguir algum tipo de ideologia não faz mais sentido, é quase antiquado.
     Hoje não soube o que dizer quando ouvi meu avô falar na mesa durante o almoço: "Mas não dá certo votar em fulana... Ela é muito certinha, não funciona se for assim". As pessoas não acreditam mais em si, quanto mais no outro. E por isso vão deixando as coisas acontecerem, permitindo, por exemplo, que a filosofia do famoso jeitinho prevaleça sobre qualquer ciência da formação das idéias, assim, explicitamente. "Fazer o quê, né?" A gente reclama dos políticos, maldiz governantes e dirigentes do que quer que seja, amaldiçoa deus e o mundo pelas misérias alheias e as suas próprias, mas no momento de agir, na hora do "vamo ver", quando chega o dia de mostrar a vontade de transformação e fazer a sua própria parte nos tornamos tão ignorantes e arrogantes e desrespeitosos quanto aqueles que pregamos contra. Porque será? Mera coincidência? Não, não... Não existem coincidências; existem causas e consequências.  Políticos corruptos são consequência de uma sociedade corrompida e a permanência deles no poder é ausência de resposta da população para com tudo isso. Causa e consequência; a estagnação da sociedade como um todo como resposta da inércia dos cidadãos que a constitui. Enquanto formos educados a nada, os maus modos reinarão. Será tão difícil ver isso? Será tão óbvio que não vale a pena mostrar?
     Eu prefiro me passar por inocente e acreditar que tudo isso faz algum sentido, tem algum propósito, manter a minha filosofia de vida e me fazer presente, por mais sozinha que esteja, em todas as oportunidades que me são oferecidas, a ser mais uma desacreditada na vida e nas pessoas. E espero me manter assim até morrer, e, enquanto viva, vou transmitir a idéia de que política séria não é utopia. Meus filhos vão crescer ouvindo falar do valor da política, vão ser educados para acreditar no poder que o homem tem sobre a própria vida e nas repercussões das suas atitudes no meio em que vive. Tem um bocado de coisa errada por aí. Consciência, educação, senso crítico, hoje? Coisa rara. Quando a gente acha que já se viu de tudo, aí está a vida para provar que ainda tem muito mais por vir. Mas me recuso a aceitar essa proposta de mundo de forma tão passiva, ser mais uma entre tantos acomodados e e me anular, em corpo como indivíduo pensante e em voto como cidadã atuante.