quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Seguindo conselhos

     Há uns dias hesitei em escrever porque não sabia exatemente sobre o que estava falando. E eu tenho a necessidade de seguir uma linha de raciocínio, mesmo que não siga padrões, para me fazer sentido; mesmo que não tenha, tenho que achar que tem. Sabia que a falação tinha algo a ver com estar feliz e o que nos apaixona, nos inspira a felicidade (clichê?, imagina...); a sensação de fim de ano chegando; reflexão em volta de algumas decisões tomadas que não se sabe ao certo se fora certas... Questionamentos, só pra não perder o costume.
     Que tempo doido é esse que passa cada vez mais rápido? (E ele nem existe, ora bolas!) E como é possível, ao mesmo tempo, tanto acontecer em apenas um ano? ... Essa sou eu nos "fins de ano". Nostálgica, pensativa, com fortes tendências à breguice, empolgada com as férias e com os planos para o próximo ano que não necessariamente acontecerão (quais das projeções feitas a cada início de ano realmente correspondem ao que vai acontecer?). Aliás, desculpa, essa não sou eu, certo? Nostalgia em fim de ano não é o que chamaria de inédito.
     De qualquer forma, quis questionar a felicidade porque tenho me sentido incomumente feliz e inspirada a fazer as coisas, apaixonada, por assim dizer, não no sentido romântico da coisa; e não soube dizer de onde isso surgiu. Escerver aos amigos, ler, comprar presentes, fabricar os meus próprios, praticar exerícios... É como uma bola de neve, é como a preguiça e a tristeza (só que, ao contrário, disposta e feliz) que quanto mais se está, mais se tendencia a crescer tal sensação dentro de si (isso me lembra "Quem somos nós?"). É viciante estar feliz, inspirada, apaixonada. E talvez essas três coisas sejam como uma só. Talvez uma coisa leve às outras e vice e versa. Mas paixão, viciante? É, essa também não é nova.
     Peguei uma caixa que guardo coisas que escrevo (da forma que eu costumava escrever, pelo menos, no já velho estilo papel e caneta na mão), minha "caixa de escrituras" particular como gosto de chamar para mim mesma e mais ninguém, de onde, inclusive, surgiu a idéia de se criar um blog, e reli uns "textos". É engraçado, por vezes irônico, ver como mudamos, ficamos velhos, melhor dizendo, amadurecemos. Por mais que algumas questões ainda sejam as mesmas, a forma de perguntá-las é diferente, a espera por uma resposta aparece num diferente tom de urgência. A verdade é que gosto de analisar as coisas, pensar sobre elas ("coisas? que coisas?" coisas, tudo, sem preconceitos)... Em pensar que mudei minha concepção em torno da política, amizade, religião, amor... Eu criava verdadeiras teorias em volta desses assuntos, era tão realista, por vezes céptica; hoje me vejo escrevendo poemas, vejam só!, logo eu, "romantizando" a vida. Na verdade, mesmo, não sei até que ponto isso é engraçado, irônico ou interessante, talvez o seja apenas para mim que me conheço, mas só estou "escrevendo alto", seguindo conselhos de escrever quase "sem querer querendo". A questão é que  sinto gosto em ver o movimento de rotação do planeta, por assim dizer, das coisas todas, é bom vê-las andando ou me ver andando novamente. Passei um bom tempo num sentimento de estagnação que parecia sem fim... É isso, movimento. Movimento é bom.
     Mas gosto também que outras questões permaneçam intactas. De repente gostar das músicas do Justin Beiber, virar fã, sei lá, da Paris Hilton? Ufa... É bom ter pelo menos um referencial inercial.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Inspiração em pé de manga



Há dias não ponho nada aqui. Pensei em falar sobre polêmicas envolvendo (pra não variar) ignorância e falta de educação de muita gente; discutir resultado de eleições com projeções previsíveis (ou não) para um futuro não muito distante; pensei em colocar velhos textos meus, citações (sou grande fã delas)... Mas não me vi verdadeiramente inspirada em nenhuma dessas opções e o que eu estava mesmo precisando era disso: inspiração.
Então lembrei dessa foto que tirei há um tempo e que inexplicavelmente adoro. Não sei porque, mas ela me faz não pensar em nada que não seja ela. Me faz esquecer o resto do mundo, os meus próprios pensamentos - até esses que são tão sem fim. Ela permite que eu mergulhe em lugar algum, em busca de coisa nenhuma e me sinta plena por não ter encontrado nada além da simplicidade do que se vê. Beleza crua de um momento, sem maquiagem, sem edição; o puro que é belo pelo que é.
Nostalgia de fim de tarde, plenitude em estar só,  inspiração em pé de manga.

sábado, 23 de outubro de 2010

De aquilo que nunca fiz...

Amor de Lua


Lua,
linda Lua
Minha Lua,
minha
Lua linda:
só minha,
minha Lua
Linda
Lua
Minha...

Minha?
Mas se todos a podem ter para si
como a tenho para mim,
Lua
como ser só minha
como?,
Lua linda
tão linda...
Tão de outro quanto minha.

Só de te ver,
Lua,
linda que é
Me faço e me deixo rir
E sorrir; te sorrir
um sorriso digno de ti.

Minha ventura,
se minha não pode ser,
Lua
É te ver
e te sentir,
Lua linda
E te pensar Lua
Minha, como se fosse.

Só minha
(Imagine só),
Lua linda.
Linda
Lua
Minha...

Arre!
Raia, dia!
Nasce, sol!
E ofusca essa lua
que ofusca meu pensar
Minha sensatez calejada,
coitada,
insensata que já é.

Chega dessa doce escuridão
(ah, sedutora ilusão
Doce que amarga a traição),
Chega dessa noite que só se faz dia
se você aparecer,
Lua
A vida é amarga,
Lua
E algum sentido isso deve ter.

A docura de te ter minha,
Lua linda,
Lua minha,
é ilusão brincando de ser verdade.

Ilusão
de te tocar,
Lua
Levitar,
Lua
É ilusão
de te alcançar...

Seu luar é minha paz,
Lua,
mas minha paz (infeliz descoberta de ti),
fonte da minha agonia.

Vai-te embora, Lua minha
Que minha não é
Ainda que linda,
Lua linda
Minha
Nunca será.



"E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isso! Abra as eclusas -
E basta de comédias na minh'alma!"

Álvaro de Campos

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Ou não?

Antes de qualquer coisa, preciso dizer que essas palavras foram escritas quase sem sentir. Aliás, as escrevi porque senti, sim, mas foi um momento. Não necessariamente as tenho como filosofia de vida. De vez em quando, não sempre...


     "O que tenho a dizer é que as pessoas ficam burras quando se apaixonam. Não que seja efetivamente possível variar o QI de um indivíduo; hora alto, hora baixo, hora alto... Mas fica claro o quanto a capacidade de raciocínio e senso crítico se tornam limitados ou inexistentes quando isso acontece.
     Qual o problema das pessoas com o amor? Que é isso que exerce tal poder acima de todos os humanos? Existe mesmo algum tipo de metafísica no ato de se apaixonar ou é tudo arte da mente vulnerável e susceptível a qualquer olhar, qualquer elogio, qualquer toque? Existe metafísica no ato de se apaixonar? Durante a paixão e o amor, existe? Será a metafísica de se apaixonar, da atração de prótons e elétrons, a burrice que acomete a todos nós? Porque tantos escritores ditos e tidos como exemplos de inteligência se dedicaram e dedicaram suas canetas, seus papéis e suas palavras a essa embreaguês da alma?
     Embreagados, sim, é o que acontece. A suspensão momentânea da razão, do raciocínio, da capacidade de comportamento adequado. A suspensão do domínio que o homem tem, naturalmente, sobre o próprio corpo dando lugar ao alheiamento total, à incapacidade, à inutilização do pensamento, à vulnerabilidade a vontade do outro. Como se não houvesse vontade própria, não! Onde fica o instinto de sobrevivência, o egoísmo e a colocação das necessidades próprias, antes de qualquer outra, em primeiro lugar; onde fica, hein?!
     Dilemas criados e dramatizados com tanta intensidade, sim, verdadeiramente vividos com muita intensidade, e para quê? Para nada. Amar é nada e ser amado é breve massagem ao ego. Amar é nada, ser amado é tudo.
28/08/2010"


Isso soa um tanto de amargura da minha parte, entendo. Mas não por isso deixa de ser, ao menos, meia verdade nessa vida.


"Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.
Leis feitas, estátuas vistas, odes findas —
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada."

-Ricardo Reis

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quer maior verdade que o dizem os clichês?

     É verdade, eu vou escrever sobre isso. Me esforço para resistir há dias, me reprimi pela falta de originalidade. Lutei contra esse instinto de querer exclamar esse assunto que (não sei se fe ou infelizmente) ainda tenho em mim, mas não foi possível. Hoje, é improvável, se não impossível, não falar sobre política. E não preciso citar o período, muito menos o próprio dia, de eleição.
     Aviso desde o começo: serei clichê, não direi nada além do já sabido e minhas indignações parecerão vulgares... Não porque nasceram assim, mas porque em algum momento a sociedade (sim, sim, todos nós) a transformou em algo que não se põe mais valor.
     A gente passa a vida (e digo isso da minha vasta experiência de 20 anos incompletos) ouvindo os outros falarem que o governo não presta, que a política é um verdadeiro cagaçal e que nunca vai deixar de ser essa sujeirada que é. Quero dizer, uma criança, adolescente em formação acredita nessas coisas. Acredita no que todos falam porque, antes de tudo, é um indivíduo em formação, é uma esponja em potencial que absorve o que está ao seu redor. Por mais que essa criatura tenha um senso crítico avançado para sua idade fisiológica e mental, não há de contrariar tudo que aprendeu desde que nascera. Tive uma professora, daquelas que você admira até o espirro, que disse isso uma só vez e nunca mais esqueci: "a língua é a primeira forma de alienação do indivíduo". Ninguém que nasce e cresce no Brasil escolhe ter como primeira língua o japonês. Ninguém que se desenvolve nesse mesmo país tem como idéia de política o que ela realmente é ou a vê como uma coisa boa, uma fonte de melhoria de vida da população, de garantia dos seus direitos e exigência dos seus deveres. Como dizem por aí, muito pelo ao contrário, a tendência é dar continuidade a essa forma limitada do pensamento.
     Como é, então, que as pessoas vão acreditar no exercício da sua cidadania? (Quando foi que elas começaram a desacreditar dela? Não houve o tempo em que a população ia às ruas brigar por isso? A partir de que momento nos tornamos tão acomodados?) Como é que elas vão parar de fazer piada sobre seus candidatos e do possível bom caráter deles se foram programadas para enxergá-los como fonte de contradição e corrupção permanente? Quero dizer, quem não acompanhou a gargalhada da platéia na fala da candidata Dilma no debate transmitido pela Rede Globo? Não é a veracidade do que ela disse que está em questão, é a postura do indivíduo brasileiro frente a algo que é tão importante e que deve ser levado tão a sério e no entanto está aí, vítima de chacota em escala nacional. A ética virou utopia, seguir algum tipo de ideologia não faz mais sentido, é quase antiquado.
     Hoje não soube o que dizer quando ouvi meu avô falar na mesa durante o almoço: "Mas não dá certo votar em fulana... Ela é muito certinha, não funciona se for assim". As pessoas não acreditam mais em si, quanto mais no outro. E por isso vão deixando as coisas acontecerem, permitindo, por exemplo, que a filosofia do famoso jeitinho prevaleça sobre qualquer ciência da formação das idéias, assim, explicitamente. "Fazer o quê, né?" A gente reclama dos políticos, maldiz governantes e dirigentes do que quer que seja, amaldiçoa deus e o mundo pelas misérias alheias e as suas próprias, mas no momento de agir, na hora do "vamo ver", quando chega o dia de mostrar a vontade de transformação e fazer a sua própria parte nos tornamos tão ignorantes e arrogantes e desrespeitosos quanto aqueles que pregamos contra. Porque será? Mera coincidência? Não, não... Não existem coincidências; existem causas e consequências.  Políticos corruptos são consequência de uma sociedade corrompida e a permanência deles no poder é ausência de resposta da população para com tudo isso. Causa e consequência; a estagnação da sociedade como um todo como resposta da inércia dos cidadãos que a constitui. Enquanto formos educados a nada, os maus modos reinarão. Será tão difícil ver isso? Será tão óbvio que não vale a pena mostrar?
     Eu prefiro me passar por inocente e acreditar que tudo isso faz algum sentido, tem algum propósito, manter a minha filosofia de vida e me fazer presente, por mais sozinha que esteja, em todas as oportunidades que me são oferecidas, a ser mais uma desacreditada na vida e nas pessoas. E espero me manter assim até morrer, e, enquanto viva, vou transmitir a idéia de que política séria não é utopia. Meus filhos vão crescer ouvindo falar do valor da política, vão ser educados para acreditar no poder que o homem tem sobre a própria vida e nas repercussões das suas atitudes no meio em que vive. Tem um bocado de coisa errada por aí. Consciência, educação, senso crítico, hoje? Coisa rara. Quando a gente acha que já se viu de tudo, aí está a vida para provar que ainda tem muito mais por vir. Mas me recuso a aceitar essa proposta de mundo de forma tão passiva, ser mais uma entre tantos acomodados e e me anular, em corpo como indivíduo pensante e em voto como cidadã atuante.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Ora bolas!

Engraçado que eu há muito tempo quero fazer um blog, mas toda vez que chegava perto disso achava que esse tipo de coisa era coisa para quem tem alguma coisa para dizer. "Dizer o que?, a quem?, a quem mais além de mim mesma interessa os meus pensamentos e teorias e maluquices e genialidades?" Me decidi por parar com isso, afinal. Sei lá, né, quem sou eu pra dizer que eu não tenho coisa alguma a dizer? Tiririca, que é Tiririca, é candidato a deputado federal (sim, eu disse federal), eu, que sou eu, ora bolas, devo ter coisa que se diga num blog. Sem querer ofender ninguém, vale lembrar. Daqui a pouco, o próprio aparece aqui querendo tirar satisfações com a minha pessoa e eu não pretendo passar por esse tipo de constrangimento.
Então... O fato é que eu me decidi por criar um blog, ora bolas, parar com essa frescura de "mas o que eu vou escrever? Mi-mi-mi...". E criei. Pari um blog.
Demorei horas de relógio como se diz por aqui (horas mesmo, não é força de expressão), escolhendo a imagem de fundo, as cores das letras, etecetera, etecetera; preparei tudo e na hora de escrever... Xiii, na hora de escrever deu branco. Aliás, branco não, não deu foi nada. No máximo, eu me lembrei que não tinha nada a dizer desde o começo e que eu sabia que esse momento chegaria e que eu estava apenas ignorando esse fato, essa verdade universal. A mesma que determina o uso de simple present numa sentença, que obriga todos a acreditarem que o céu é azul e a mesma que - essa eu gosto - afirma que o sistema é o culpado de tudo (ora bolas, ele é, não é?).
Dessa vez foram semanas, não apenas dias nem horas, que me consumiram antes que eu conseguisse rabiscar, ou teclar, melhor dizendo, algumas palavras nesse humilde espaço. Tá bom, tá bom, exagero meu... Não é que varei noites acordada pensando no que escreveria no meu blog, coisa de vida ou morte ou calamidade parecida, mas o coitado ficou entregue às moscas, coitado. O coitado, coitado, tinha uma imagenzinha de fundo e nada mais. Coitado do meu blog; mal nasceu e já não tinha vida.
Foi aí que, rá-rá! Eu me lembrei de uma coisa (e essa é a parte em que todos os meus leitores, todos eles, que congestionam a internet local só para acessar esta página, se acomodam melhor em suas cadeiras, aproximam o rosto do monitor e roem as unhas ansiosos pela revelação): o nome do blog, ora bolas!
A falta de propósito na sua existência me libertou da necessidade de explicação da mesma. Me pareceu, então, que nada seria mais justo que contar à minha multidão de fans essa historinha como inauguração de si mesma. "Comece pelo começo, ora bolas." O início de nada a partir de nada. Até porque, no fundo, no fundo, tudo (me referindo agora ao resto do universo real e virtual) surgiu, em algum momento, de coisa nenhuma. Tudo o que faltava era uma boa música de fundo. E pronto.