domingo, 24 de julho de 2011

Piração

Gota de chuva,
raio de sol,
vento que passa,
o nada (que é tudo),
a espera e o mudo.


Inspiração que não vem!

Se esconde
Foi onde?
Aparece pr'eu te ver!

Inspiração, cê não vem?

Há quanto te chamo?
Tempo?,
nem conto...
Só vale
quando se tem.

Inspiração? Vem!

Que eu quero criar,
cansei de pensar!
Eu quero é viver,
mas sem você
não dá...
Não há
vida,
menina,
menino...
Paixão!

Ahh... Inspiração!

Questionar-te
é duvidar da existência
da beleza no mundo.
Do mundo,
da arte,
da Existência em si.
E isso não é possível,
Inspiração,
não me atrevo.

Talvez,
permanecer perdida
seja a sua razão de ser.
Talvez,
a intenção seja essa;
a gente te procura, Inspiração,
pra ensaiar
o pirar do viver.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Evitar guerras ouvindo boa música.


      Eu tenho uma teoria (e vamos aqui ter certeza que sabemos diferenciar uma teoria de uma certeza) de que as pessoas que não suportam e se irritam de forma excessiva num engarrafamento somente o fazem porque não têm um bom cd para escutar. Por que não enjoy the ride? As pessoas se irritam muito facilmente hoje em dia...
     Uma vez quando pegava carona com um amigo meu ele me perguntou de repente: "Você se incomoda com um 'awkward silence' (aqueles silêncios constrangedores no qual duas pessoas não conseguem manter um diálogo e o clima se torna estranho para ambas; encontros no elevador costumam promover esse tipo de "silêncio")?" Foi aí que percebi que já estávamos há um bom tempo sem conversar; eu estava, como em muitas vezes, perdida nos meus pensamentos. Respondi que não, que só me incomodaria se fosse realmente estranho, o que não era o caso, já que nos conhecíamos bem e havíamos conversado durante todo o caminho como acontecia todos os dias, que aquele era apenas um momento de dispersão dos dois. Me surpreendi com a sua resposta: "É mesmo... Isso significa que eu gosto de você e você gosta de mim e nos sentimos à vontade um ao lado do outro, tipo, não sentimos a necessidade de manter um diálogo se ele não existe ou ficamos desconfortáveis".
     Quero dizer, é óbvio. É claro que nos gostávamos e nos sentíamos confortáveis um com o outro, é a confirmação da existência de uma amizade, certo?; o fato é que saí do carro segundos depois dele ter lançado a última frase, mas ela continuou na minha cabeça por horas. Fiquei pensando sobre ela, na sua veracidade e em como ela pode se estender ao universo particular de cada um no que tange a solidão.
     Acredito haver uma certa confusão em definir a solidão. Muita gente se incomoda intensamente em estar só e compara isso à solidão. Para mim solidão é algo muito mais profundo e mais forte, mas não quero abordar definições agora, não é meu objetivo. Meu ponto é que acho que, para essas pessoas, ficar sozinho é insuportável porque é um "awkward silence" consigo mesmo, como um monólogo chato e silencioso. Mas não deve ser assim, sabem? Para mim, que passo grande parte do tempo refletindo e pensando sobre as coisas, estar sozinha é apenas o que é, nada menos, nada mais. Nada (de)mais. Inclusive, gosto muito de ficar sozinha e acho graça de quem entende isso como "autismo", como gostam de brincar comigo. Acho que as pessoas que não se sentem muito bem estando sozinhas deviam explorar isso nelas, cortando o papo de psicóloga, convivemos com nós mesmos pro resto da vida, então... Proponho aproveitar o momento de estar só como se aproveita um engarrafamente para ouvir seu cd preferido. E isso não tem nada a ver com Pollyana. Eu acho.
     Se mais pessoas se sentissem mais confortáveis consigo mesmas possivelmente teríamos pessoas menos irritadas no trânsito, buzinando loucamente para que os outros saissem da frente e elas podessem chegar em casa. Menos ainda se elas estivessem curtindo um bom cd durante o caminho. O mundo seria mais calmo. Aliás, tem muita guerra por aí que provavelmente seria evitada se as pessoas tivessem bons cds para ouvir. Taí... Talvez essa seja a minha próxima teoria. Evitar guerras ouvindo boa música.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Com que roupa eu vou..."

     Hoje comprei uma blusa e fiquei feliz. Primeiro porque gosto de comprar coisas que têm, não apenas uma função, mas uma relação direta com a minha personalidade; segundo porque é uma coisa com uma função e uma relação direta profunda, se isso é possível, com a minha personalidade. Olheia, fiquei feliz e comprei (contradizendo a ordem dos acontecimentos no início do parágrafo, mas esse é um daqueles casos em que não se altera o produto, então...). E acredito que ficarei feliz todas as vezes que olhá-la novamente e usá-la, visto que agora a possuo e assim posso fazer.
     Eis aqui o que vem escrito em sua estampa, parte de um poema que muito aprecio (mais uma vez) de Pessoa, O Fernando.


   "Mas se Deus é as árvores e as flores
     E os montes e o luar e o sol,
     Para que lhe chamo eu Deus?
     Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
     Porque, se ele se fez, para eu o ver,
     Sol e luar e flores e árvores e montes,
     Se ele me aparece como sendo árvores e montes
     E luar e sol e flores,
     É que ele quer que eu o conheça
     Como árvores e montes e flores e luar e sol.  
   
     E por isso eu obedeço-lhe,
     (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
     Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
     Como quem abre os olhos e vê,
     E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
     E amo-o sem pensar nele,
     E penso-o vendo e ouvindo,
     E ando com ele a toda a hora."



     Genial, né?! Como ninguém tinha pensado nisso antes? Será que ninguém tinha pensado nisso antes? Enfim... Para os limitados de pensamento, para aqueles que este não é semfim; moda, apesar do comércio excessivo, cenário competitivo e ostensivo, imposição de valores visuais ilusórios, também é cultura.

Produto de um (bom) show.

     "Começou assim, um moço de vermelho e cara pintada olhando pra mim. Esperei muito para que ele começasse a falar, ouvi muitos até que aparecesse para cantar. Só ouvia dizer que era o amor que transbordava palco afora e inundava a platéia, envolvia-nos em um só. E ouvia dizer! Que o amor era lindo e te abraçava sem você saber.
     Esperei o amor chegar (como esperei o homem falar), fiquei atenta aos rufos do tambor, queria saber qual era a sua cara, a sua cor. Foi aí que chegaram outros e percebi que "a cara" eram muitas, "a cor" eram todas do arco íris juntas e misturadas. Me destraí, a maré de gente me levou... Me deixei levar e de repende vi que o amor já estava lá e eu já dançava e ria e me (en)cantava cada vez mais intensamente.
     Poesia cantada, canção interpretada, interpretação magicada, magia dançada, dança engraçada, graça educada, educação conscientizada, consciência poetizada. Posto na frente daquela gente brilhante, gritante, pulsante, o amor se fez pensante, se fez arte; o amor se fez em mim. As sementinhas plantadas por cada um que me confessou breguices de um fã germinou e em tempo recorde eu também já era uma fã brega e piegas, sem piedade para os fracos de alma e vontade, para os desacreditados da beleza da vida.
     Saí de lá flutuando, querendo mais, sonhando para acordar no dia seguinte e poder dizer que tinha sido tudo verdade. Terminou assim, com aquele moço de vermelho olhando pra mim; um anjo me  contando palavras bonitas sobre a vida e o amor e dizendo pra sempre acordar no dia seguinte brilhando mais forte, não importa onde for. O Teatro Mágico me encantou..."



15/07/2011 - 3:43



PS.: Não me importo muito que nem tudo seja como se mostra no palco ou aparece aos espectadores, a mensagem captada foi essecialmente essa e espero, verdadeiramente, que ela continue sendo mostrada para outras pessoas para que elas se "iludam" e tirem alguma coisa de cultura no meio de tanta besteira musicada que vemos por aí.