sábado, 10 de dezembro de 2011

Isso muda tudo.

Quando de noite tem festa, o dia seguinte acorda com cara de domingo.
Não sei porque (por que, por quê, porquê... ?), mas acorda.
Que bom que ainda é sábado; isso muda tudo.

"Hoje eu quero saiiiir sóóó...

... a Lua me chama, eu tenho que ir pra rua."




Só porque esse cara é muito show. Não é pouco, não, é muito.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ah, um suspiro...

Ah, esse corpo que me prende
e me impede de estar lá fora
sendo feliz como quero
aqui dentro.

Ah, isso que me chama,
suplica por mim,
parece incompleto sem a minha presença.
Incompleta estou eu...


Eu que preciso do mundo para viver,
preciso da vida para meu mundo girar.

Preciso das cores,
cheiros,
vozes,
gostos,
dança de sensações.

Ah, esse corpo que tudo sente
em fantasias de ar puro.
Se deixe ser livre de si.
Eu quero pôr o Sol
a nascer de dentro de mim.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"- Mas que...?"

- Com licença, Senhor...
- Diga, minha jovem.
- O Senhor pode me dizer onde fica o Paraíso?
- Paraíso...? Humm... Ah, sim, é descendo por aqui... Desce aqui e segue em frente.
- Ai, obrigada! Achei que não ia encontrar nunca... Só descer, né?
- É isso mesmo. Tem uma placa mais à frente.








- Mas que...?





"Não só quem nos odeia ou nos inveja
Nos limita e oprime; quem nos ama
Não menos nos limita.
Que os deuses me concedam que, despido
De afetos, tenha a fria liberdade
Dos píncaros sem nada.
Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre; quem não tem, e não deseja,
Homem, é igual aos deuses"
R. Reis

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pois é... 2

Sabe quando se sente tanto a música que você não sabe mais se é você quem está dentro dela ou ela que o possuiu? Pois é...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Em paz


 

É que o barulho do mar,
hoje, me fez mar,
me fez chorar por dentro
de feliciade.

A maré cheia me encheu
daquilo que ja havia esquecido.
E senti mais uma vez
a plenitude do meu ser.

No meu lugar,
perto do mar,
em casa:
onde deveria estar.

O cheiro da maresia me inebriou
e no escuro da noite enxerguei
aquilo que meus olhos sempre sentiram com o coração,
mas as luzes da cidade não deixavam ouvir.

sábado, 12 de novembro de 2011

"- Ahn..." 2

- Voltei.
- Posso ajudar?
- Eu quero aquele remédio.
- Logo a senhora?
- É, mudei de idéia.
- Ahn...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11:11 - 11/11/11


 
11:11 - Rodrigo y Gabriela

     Descobri essa dupla de mexicanos por acaso, colocando meu nome na barra de busca do youtube. De fato, coisa de quem estava de férias e não tinha mesmo o que fazer, mas a verdade é que esse "por acaso" me cativou e hoje sou grande admiradora deles.
     Rodrigo e Gabriela faziam parte de uma banda de metal e, pelo que li, não estavam completamente satisfeitos com a vida musical que estavam levando. Resolveram, juntos, expandir seus horizontes, viajaram, mudaram de estilo e acabaram por ganhar o mundo com seus violões acústicos. Influências explícitas de Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Metallica, Pink Floyd e outros tantos famosos.
     Não que interesse essa parte... Só coloquei eles aqui porque tinha tudo a ver com a data de hoje.


Vale conferir, também deles:

Acredite, não há de quê.

Ora, mas que beleza
(não me deixo esquecer),
que beleza a vida é!
Bote fé.

Acredite, não há de quê.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Àqueles que gostam.

Tuna in the brine - Diorama - Silverchair



     Uma das melhores músicas de um dos melhores cd's. Cada minúsculo detalhe sonoro tem um propósito de causar sensações, por isso essa é uma daquelas faixas que gosto de ouvir quando nenhum outro barulho pode interferir. Talvez nem seja grande coisa para a maioria, mas ainda assim...
     Acredito que se uma coisa não fica velha com o tempo é pq ela é boa de verdade; Diorama é um exemplo disso. 
Àqueles que gostam.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

"O trocadilho do esperto ao contrário"

Entendeu?


"A loucura surge no nosso pico de sanidade.
Dê-me a Razão
e ei de questioná-la até tornar-se irreal;
ponha-me frente a um louco
e verei a Verdade em cada insanidade proferida."
08/09/2011

Sem nome

Eu gosto é do escuro.
E do barulho também,
mas eu gosto é do silêncio
que fala
entre eu e você.

E você nunca vai saber disso.
Mas eu gosto mesmo do escuro.
E do silêncio que fala
entre eu e você.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

"Há algo tão inevitável quanto a morte, a vida."

Verdade seja dita... Há momentos em que não dá mesmo pra fugir dela.


Que bom!

Gel sólido

     "Gel sólido". Foi  que li um dia desses no hospital. Ironias da vida, pensei. Gel sólido, veja se pode. No meio da aula ninguém daria atenção à minha descoberta, aliás, ninguém me daria atenção por achar aquilo engraçado ou irônico. Pensando bem, ninguém diria coisa alguma em quaquer momento sobre isso, fosse aula ou não, por isso guardei o comentário, ou o fiz para mim mesma. Gel sólido... Achei graça disso.
     Me sinto alienada. Fora do mundo, fora do meu mundo que é fora do mundo "real". Me sentir muito dentro do resto do mundo o tempo todo me faz querer não estar nele, passar menos tempo nele, cada dia tenho menos paciencia para ele. Às vezes acho que isso tem mesmo um "quê" de autismo, personalidade antisocial... Bem que eles me avisaram. A verdade é que não lembro a útima vez que fiz um monte de coisa que adoro fazer. Parar para escolher e alugar um filme e poder riscá-lo da minha lista. Parar e ouvir um CD, mas um CD de verdade, de cabo a rabo, cantando, chorando e assustando qualquer um que se aproxime; cansei de ouvir apenas músicas soltas no carro. Parar para escrever, criar teorias sobre a vida e a bobice das pessoas e as minhas também (gel sólido e coisa e tal), ler blogs alheios, ler um livro que eu escolhi ler. Parar para dormir muuuitas horas seguidas (será possível, meu deus?). Parar de me importar. Parar mesmo (desabafos à parte). A minha vida acontece às avessas, quando o resto fica quieto por fora, me movimento por dentro.
     Onde toda a arte foi parar, aliás? Será que no corre-corre do dia-a-dia ela brincou de esconde-esconde e esqueceu de aparecer? Em que momento a paixão se perdeu? Quando a vontade de viver se des-inspirou? Os poemas, os bons filmes, as músicas que fazem você querer ouvi-las para sempre... Não há mais espaço para isso?, tempo? Quantas vezes mais vou perguntar por eles? Já estou me cansando dos meus questionamentos batidos. Já que as velhas respostas não vêm, por que não surgem novas perguntas? A gente não vai mudar mesmo?
     Os clichês são verdadeiramente agridoces. E devo admitir que tenho uma queda por coisas agridoces, vai saber porque. Por vezes praguejei contra eles, os clichês, é quase insuportável ouvi-los aos outros, a lição de moral entranhada em suas frases prostituídas; coisa mais chata, de velho. Mas é uma graça quando os enxergamos em nossa frente; parecem nos fazer cosquinhas, apontar nossas rugas, sussurrar "eu te disse". Como já escrevi aqui uma vez, quer mais verdade que o que dizem os clichês? Citei-os porque ia tratar da alienação da sociedade (em minha visão, o provável motivo da minha alienação e da minha insatisfação com isso), mas tudo tem um limite, certo? O limite do meu texto chega aqui e da minha capacidade de manter meus olhos abertos, também.
     Talvez a sociedade e eu, como produto-contribuidor dela ou não, sejamos um gel solidificado. Talvez a arte seja um gel em processo de solidificação. O que seria uma pena para os três. Mas o mais provável é que uma coisa não tenha nada a ver com outra e eu esteja viajando. Como sempre. E eu bem espero que seja assim.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quase

Nunca mais vim aqui e sinto falta disso.
Sinto falta de escrever.
Monologar comigo mesma e com vocês.
Dialogar monologando.
Escrever pelo semfim de pensar.
Pensar pelo semfim de viver.
Quase me esqueci de como isso é bom...

Quase.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Agridoces domingos

     Tem dias que tudo faz crescer, tudo é motivo de ser razão e nada se opõe ao bem estar do mundo. Caramba, tem dias que a vida é colorida! A danada dá um remelexo, uma quebrada aqui, outra acolá, parece outra quando abrimos os olhos; acordando pela manhã, piscando durante a tarde ou sonhando durante a noite (quando eles se abrem pra dentro). O céu se veste de azul, azul mesmo, como você nem lembra a última vez que viu, e talvez até se questione de onde vem aquela cor, mas a verdade é que nem se importa com a resposta, apenas gosta de vê-lo assim e ponto final. Nesses dias você pode acordar vinte vezes, todas com o pé esquerdo e, mesmo assim, nada vai parecer errado (ainda que esteja). O clima está agradável, a comida saborosa, as músicas em sintonia com o seu bom humor. Os problemas? Sim, sim, vão existir, te dar um "oi" e, finalmente, vão se mostrar um pouco mais simpáticos, flexíveis, quem sabe até menos problemáticos. E você, meu caro, vai achar que finalmente a vida é boa! Que Deus, graças a ele mesmo, existe, veja só, admite a sua existência e resolveu te dar um agrado por todo o esforço exercido em todos os outros dias que antecederam este; um verdadeiro divisor de águas. Poxa vida, tem dias que a vida é linda, a Bahia é linda, é tudo lindo! Casais enamorados, amigos felizes, crianças brincando, velhinhos tricotando no melhor estilo mil novecentos e bolinhas... Você mesmo se olha no espelho e acha que neste dia especial está mais bonito e que se não fosse um tanto paradoxal diria até que rejuvenesceu uns meses. É, tem dias que são assim.
     Mas tem dias que não. Vai saber por que...


Meus agridoces domingos.

sábado, 10 de setembro de 2011

O cachimbo e a boca torta.

     Só percebemos que nossos óculos estavam velhos quando pomos uns novos na cara.








E olha que até poderia, mas nem estou falando de lentes e armações.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Fixação

     Ainda bem que ficar louco se tornou uma questão de normalidade (não que acredite muito no que ela quer dizer...). Conhecer o funcionamento da vida, da vida e da Vida, definitivamente, tem me deixado cada dia menos sã.






Surtar é para os que têm tempo, 
estudar, não.
(Ora, pra que tanta pressa?)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mundo dos sonhos

     Há uma semana, mais um menos, venho sonhando várias coisas estranhas. Não que eu não tenha sonhado em outros momentos (e não que os sonhos não sejam estranhos por si só), mas tenho conseguido lembrar e anotar alguns deles e sentir, relembrando acordada, aquilo que vivi no meu próprio universo paralelo. A verdade é que eu viajo nessa onda e adoro quando tenho esses surtos de boa memória, de vez em quando acontece.
     Provavelmente não por acaso, porque já venho deixando de acreditar neste há um tempo, parei para assistir um filme ontem à noite que viajava na mesma onda que eu estava. E que viagem! Um personagem preso em seus sonhos, conversando com pessoas aleatórias, sobre assuntos aleatórios, questionando e divagando, direta ou indiretamente, sobre coisas da vida com diálogos dinâmicos e inteligentes (na maioria deles queria dar uma pausa ou voltar para refletir sobre o que foi dito). Achei genial, delícia de se assistir.
    
     O nome do filme é Waking Life, do diretor Richard Linklater. Para mim, foi um bom motivo para pensar sem fim, talvez seja para vocês também.



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Continuidade desordenada

Meu dia amanhece
quando o Sol se põe

Pensamento
música
café

pensamento
música
música
café

café
café
pensamento

música
pensamento
música
café

café
pensamento
pensamento
pensamento...

música
música
café
música

pensamento
música
pensamento
café

café
música
pensamento.

Mas não necessariamente nessa ordem.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"- Ahn..."

- E tem remédio pra isso, moço?
- Tem, sim, senhora.
- É mesmo, moço, remédio?
- É, sim, senhora. Tem gente que se não tomar fica doido, parece que vai morrer.
- Que horror... E tem gente que não quer? Que estranho...
- O quê?, tomar o remédio?
- Não, moço, morrer de amor...
- Ahn...

domingo, 21 de agosto de 2011

Bem nada.

     Tamanha era a minha vontade de não falar sobre nada, que vim aqui dizer isso. Só para que fique bem claro que eu não quero falar sobre nada. Nada mesmo, assim. Bem nada.
     Por motivos bons e ruins ou nenhuma das duas coisas. Nada. Às vezes nada é a única coisa que faz sentido. Ou não...
     
     Ironias da vida, vai saber...


"Não existe data certa conta ou alguma reza
O cupido quando acerta o acaso lhe reserva"
Lucas Santtana (que nada tem a ver com o Luan Santana)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

E só.

E quem sou eu para falar dos outros?
Eu que não sou santo,
herói,
monge,
deus.

Ainda que fosse...
Quem seria eu para falar o que quer que seja
de quem quer que fosse?

Pensando bem...
Quem é alguém para que fale de mim?
O que é ninguém que sei lá o que mais?
Calem-se todos.
A razão nem lhes pertence...

Ou melhor;
falem de uma vez!
Despidos,
desmascarados.
Essa é a minha condição.

Eu quero ver o silêncio gritar quando
ninguém
tiver nada
pra falar
de ninguém.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Nostalgia mansa

Que saudade do manso...
Só dele não me canso.
Embalo quieto para me ninar,
descansar minha mente
e meu pranto.

http://www.youtube.com/watch?v=RZeYC6FxiXo
Sara Tavares - Manso, manso

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"Olê, olê, olê, olá..."

     Não aguentei ela tocando incessantemente na minha cabeça, vim compartilhar com vocês!


Olê, Olá 
Chico Buarque
 
Não chore ainda não
Que eu tenho um violão
E nós vamos cantar
Felicidade aqui
Pode passar e ouvir
E se ela for de samba
Há de querer ficar

Seu padre, toca o sino
Que é pra todo mundo saber
Que a noite é criança
Que o samba é menino
Que a dor é tão velha
Que pode morrer
Olê olê olê olá
Tem samba de sobra
Quem sabe sambar
Que entre na roda
Que mostre o gingado
Mas muito cuidado
Não vale chorar

Não chore ainda não
Que eu tenho uma razão
Pra você não chorar
Amiga me perdoa
Se eu insisto à toa
Mas a vida é boa
Para quem cantar

Meu pinho, toca forte
Que é pra todo mundo acordar
Não fale da vida
Nem fale da morte
Tem dó da menina
Não deixa chorar
Olê olê olê olá
Tem samba de sobra
Quem sabe sambar
Que entre na roda
Que mostre o gingado
Mas muito cuidado
Não vale chorar

Não chore ainda não
Que eu tenho a impressão
Que o samba vem aí
E um samba tão imenso
Que eu às vezes penso
Que o próprio tempo
Vai parar pra ouvir

Luar, espere um pouco
Que é pro meu samba poder chegar
Eu sei que o violão
Está fraco, está rouco
Mas a minha voz
Não cansou de chamar
Olê olê olê olá
Tem samba de sobra
Ninguém quer sambar
Não há mais quem cante
Nem há mais lugar
O sol chegou antes
Do samba chegar
Quem passa nem liga
Já vai trabalhar
E você, minha amiga
Já pode chorar

domingo, 24 de julho de 2011

Piração

Gota de chuva,
raio de sol,
vento que passa,
o nada (que é tudo),
a espera e o mudo.


Inspiração que não vem!

Se esconde
Foi onde?
Aparece pr'eu te ver!

Inspiração, cê não vem?

Há quanto te chamo?
Tempo?,
nem conto...
Só vale
quando se tem.

Inspiração? Vem!

Que eu quero criar,
cansei de pensar!
Eu quero é viver,
mas sem você
não dá...
Não há
vida,
menina,
menino...
Paixão!

Ahh... Inspiração!

Questionar-te
é duvidar da existência
da beleza no mundo.
Do mundo,
da arte,
da Existência em si.
E isso não é possível,
Inspiração,
não me atrevo.

Talvez,
permanecer perdida
seja a sua razão de ser.
Talvez,
a intenção seja essa;
a gente te procura, Inspiração,
pra ensaiar
o pirar do viver.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Evitar guerras ouvindo boa música.


      Eu tenho uma teoria (e vamos aqui ter certeza que sabemos diferenciar uma teoria de uma certeza) de que as pessoas que não suportam e se irritam de forma excessiva num engarrafamento somente o fazem porque não têm um bom cd para escutar. Por que não enjoy the ride? As pessoas se irritam muito facilmente hoje em dia...
     Uma vez quando pegava carona com um amigo meu ele me perguntou de repente: "Você se incomoda com um 'awkward silence' (aqueles silêncios constrangedores no qual duas pessoas não conseguem manter um diálogo e o clima se torna estranho para ambas; encontros no elevador costumam promover esse tipo de "silêncio")?" Foi aí que percebi que já estávamos há um bom tempo sem conversar; eu estava, como em muitas vezes, perdida nos meus pensamentos. Respondi que não, que só me incomodaria se fosse realmente estranho, o que não era o caso, já que nos conhecíamos bem e havíamos conversado durante todo o caminho como acontecia todos os dias, que aquele era apenas um momento de dispersão dos dois. Me surpreendi com a sua resposta: "É mesmo... Isso significa que eu gosto de você e você gosta de mim e nos sentimos à vontade um ao lado do outro, tipo, não sentimos a necessidade de manter um diálogo se ele não existe ou ficamos desconfortáveis".
     Quero dizer, é óbvio. É claro que nos gostávamos e nos sentíamos confortáveis um com o outro, é a confirmação da existência de uma amizade, certo?; o fato é que saí do carro segundos depois dele ter lançado a última frase, mas ela continuou na minha cabeça por horas. Fiquei pensando sobre ela, na sua veracidade e em como ela pode se estender ao universo particular de cada um no que tange a solidão.
     Acredito haver uma certa confusão em definir a solidão. Muita gente se incomoda intensamente em estar só e compara isso à solidão. Para mim solidão é algo muito mais profundo e mais forte, mas não quero abordar definições agora, não é meu objetivo. Meu ponto é que acho que, para essas pessoas, ficar sozinho é insuportável porque é um "awkward silence" consigo mesmo, como um monólogo chato e silencioso. Mas não deve ser assim, sabem? Para mim, que passo grande parte do tempo refletindo e pensando sobre as coisas, estar sozinha é apenas o que é, nada menos, nada mais. Nada (de)mais. Inclusive, gosto muito de ficar sozinha e acho graça de quem entende isso como "autismo", como gostam de brincar comigo. Acho que as pessoas que não se sentem muito bem estando sozinhas deviam explorar isso nelas, cortando o papo de psicóloga, convivemos com nós mesmos pro resto da vida, então... Proponho aproveitar o momento de estar só como se aproveita um engarrafamente para ouvir seu cd preferido. E isso não tem nada a ver com Pollyana. Eu acho.
     Se mais pessoas se sentissem mais confortáveis consigo mesmas possivelmente teríamos pessoas menos irritadas no trânsito, buzinando loucamente para que os outros saissem da frente e elas podessem chegar em casa. Menos ainda se elas estivessem curtindo um bom cd durante o caminho. O mundo seria mais calmo. Aliás, tem muita guerra por aí que provavelmente seria evitada se as pessoas tivessem bons cds para ouvir. Taí... Talvez essa seja a minha próxima teoria. Evitar guerras ouvindo boa música.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

"Com que roupa eu vou..."

     Hoje comprei uma blusa e fiquei feliz. Primeiro porque gosto de comprar coisas que têm, não apenas uma função, mas uma relação direta com a minha personalidade; segundo porque é uma coisa com uma função e uma relação direta profunda, se isso é possível, com a minha personalidade. Olheia, fiquei feliz e comprei (contradizendo a ordem dos acontecimentos no início do parágrafo, mas esse é um daqueles casos em que não se altera o produto, então...). E acredito que ficarei feliz todas as vezes que olhá-la novamente e usá-la, visto que agora a possuo e assim posso fazer.
     Eis aqui o que vem escrito em sua estampa, parte de um poema que muito aprecio (mais uma vez) de Pessoa, O Fernando.


   "Mas se Deus é as árvores e as flores
     E os montes e o luar e o sol,
     Para que lhe chamo eu Deus?
     Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
     Porque, se ele se fez, para eu o ver,
     Sol e luar e flores e árvores e montes,
     Se ele me aparece como sendo árvores e montes
     E luar e sol e flores,
     É que ele quer que eu o conheça
     Como árvores e montes e flores e luar e sol.  
   
     E por isso eu obedeço-lhe,
     (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
     Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
     Como quem abre os olhos e vê,
     E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
     E amo-o sem pensar nele,
     E penso-o vendo e ouvindo,
     E ando com ele a toda a hora."



     Genial, né?! Como ninguém tinha pensado nisso antes? Será que ninguém tinha pensado nisso antes? Enfim... Para os limitados de pensamento, para aqueles que este não é semfim; moda, apesar do comércio excessivo, cenário competitivo e ostensivo, imposição de valores visuais ilusórios, também é cultura.

Produto de um (bom) show.

     "Começou assim, um moço de vermelho e cara pintada olhando pra mim. Esperei muito para que ele começasse a falar, ouvi muitos até que aparecesse para cantar. Só ouvia dizer que era o amor que transbordava palco afora e inundava a platéia, envolvia-nos em um só. E ouvia dizer! Que o amor era lindo e te abraçava sem você saber.
     Esperei o amor chegar (como esperei o homem falar), fiquei atenta aos rufos do tambor, queria saber qual era a sua cara, a sua cor. Foi aí que chegaram outros e percebi que "a cara" eram muitas, "a cor" eram todas do arco íris juntas e misturadas. Me destraí, a maré de gente me levou... Me deixei levar e de repende vi que o amor já estava lá e eu já dançava e ria e me (en)cantava cada vez mais intensamente.
     Poesia cantada, canção interpretada, interpretação magicada, magia dançada, dança engraçada, graça educada, educação conscientizada, consciência poetizada. Posto na frente daquela gente brilhante, gritante, pulsante, o amor se fez pensante, se fez arte; o amor se fez em mim. As sementinhas plantadas por cada um que me confessou breguices de um fã germinou e em tempo recorde eu também já era uma fã brega e piegas, sem piedade para os fracos de alma e vontade, para os desacreditados da beleza da vida.
     Saí de lá flutuando, querendo mais, sonhando para acordar no dia seguinte e poder dizer que tinha sido tudo verdade. Terminou assim, com aquele moço de vermelho olhando pra mim; um anjo me  contando palavras bonitas sobre a vida e o amor e dizendo pra sempre acordar no dia seguinte brilhando mais forte, não importa onde for. O Teatro Mágico me encantou..."



15/07/2011 - 3:43



PS.: Não me importo muito que nem tudo seja como se mostra no palco ou aparece aos espectadores, a mensagem captada foi essecialmente essa e espero, verdadeiramente, que ela continue sendo mostrada para outras pessoas para que elas se "iludam" e tirem alguma coisa de cultura no meio de tanta besteira musicada que vemos por aí.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Soltos e inconclusivos

     Me angustia não poder voltar no tempo para refazer algumas coisas, desfazer outras, fazer talvez... Que rumo a vida teria tomado? Quem seria eu agora? Que seria de mim? Sem dúvida foi o filme que me fez ficar assim, reflexiva sobre isso mais uma vez, tendenciosa a fazer isso mais uma vez. Concluir, aliás, aquilo que não foi termidado nem acontecido como sonhado. Eu meio que cansei de raciocinar em cima das possibilidades, acho, minha vontade mesmo agora é voltar e acabou. Não sei se isso é ou pode ser uma má tentativa de tentar recuperar o tempo passado por se achar que é perdido, mas é o que desejo.
     Que lindo é... Que lindo seria... Sinto falta disso há tantos anos... Há tanto, com tanta intensidade, com tanto pesar e tanto amor... Será que não perdi muito tempo? Não será tarde demais? Ainda não sei porque isso me comove tanto. Talvez porque foi o único sonho que tive e o abandonei. E depois dele não soube mais sonhar. Tenho medo de não encontrar o que estou procurando, tenho medo de não me achar mais nesse lugar, de não pertencer mais a isso depois de tanto tempo ter se passado, descobrir que não sou quem achava que era. E depois talvez ver que não tenho mesmo sonho algum em minha vida, que não restou nada disso em mim. E restou? ...
     Existe sempre aquela hipótese de que tudo aconteceu como deveria e esse é um momento crise pelo qual eu realmente devesse estar passando; vai ver é mesmo. Mesmo que eu ache que não, é sempre bom levar em consideração que pode ser assim também que as coisas acontecem; não como a gente acha que deve ser ou deveria ter sido, simplesmente como foram um dia e - iguais ou diferentes - estão sendo agora.
     É isso... Um dia ei de deixar a metafísica de lado, por vezes ela não ajuda muito. Talvez até atrapalhe.


2:13 - Segunda 21/02/2011




P.S.: Senti falta de estar aqui.
P.S.2: Como é possível que se viva sem arte? Possível tema para um futuro post.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Enfim... semfim!

    

    

     Que sabemos da vida afinal? E pra que tanto medo da morte?
     O desconhecido assusta, dizem. Sinceramente?, entendemos da vida tanto quanto conhecemos a morte, eternos escravos das suposições. Apenas isso. Então, porque não temer a vida também? Ou porque não deixar de morrer de medo da morte? Pra que tanto medo da morte?
     Será preciso morrer para aprender aproveitar a vida? Para vivê-la, será? Que propósito há em viver pensando e temendo a morte? Pra que tanto medo da morte?
     Quando chega a morte na vida? E como é a vida quando a gente morre? Será tão ruim assim? Pra que tanto medo, meu deus, dessa morte desconhecida, sem lenço nem documento, quase um mendigo sem data de nascimento?
     A vida passada e não vivida é vida morrida, por assim dizer. É como a morte chegada antes da hora (antes da hora?); a morte vivida da vida morrida, é morte sem vida, é nada. Morte por antecipação, morte por anulação; nem matada nem morrida, morte por falta de paixão à vida, por temê-la, também. Quem não deve não teme, quem não teme se joga. Pra que tanto medo da vida, então?
     Por que não se jogar? Viver sem pensar na morte, morrer por viver a vida!
     Ora bolas, que diferença há, afinal, em viver ou morrer de amor? Porque não ser, então, o amor, por fim? Enfim... semfim!

sábado, 26 de março de 2011

Melancolia de botequim

     A verdade é que não sei como ainda existem leitores desse blog (e existem?). De qualquer forma, continuo tentando honrar aqueles poucos que fazem questão de me prestigiar, aparecendo aqui de quando em vez.
     O texto que segue foi redigido há cerca de dois anos. Não me lembro se tinha algum propósito, se tinha algum direcionamento pessoal, mas (para não variar...) encontrei hoje, boiando por aí e, embora a falta de história ou justificativa da escrita, embora tenha uma carga de drama acima do que considero necessário e/ou suficiente, se fez pensante. E ponto. Não pronto, ponto.


     "Que falar, ó céus, dessa vida - ó vida - de solidão e tortura? A monotonia que dilacera a alma cativa da esperança de um grande amor, um grande desejo. Que será da vida - e maldito seja o que um dia me colocou em seu caminho e, por fim, te colocou e nunca mais tirou do meu coração - sem aquilo que me faz acordar e ainda assim me mantém sonhando? Que será de mim, pobre reles mortal, sem o veneno que somente mata se não o tomo? Que serão dos meus pensamentos, todos, que sem você são tão vazios e insignificantes? Que acontecerá com meus sentimentos que, desde já, murcham em tristeza e melancolia e sofrem por ter de se fazer existir através de lembranças e lembranças só, que corroem ao fato de não voltarem nunca mais?
     E que não se fale da dor... Ela quase não se faz mais presente. Não por falta de vontade de se mostrar, sim porque simplesmente, de tão doída, já se deixou acostumar. Anestesiada por si mesma, protetora da própria fragilidade. Uma dor insensível e revoltosa, que não se aceita na condição de dor (como se tivesse algum dreito de reinvidicar o fato de ser uma dor e não o seu oposto). Às vezes até tenta, mas não se mente aparência, só se tranforma conceitos, não se mudam naturezas; não se muda o que se é. Uma coisa vai ser sempre uma coisa. Não importa como ela venha, não importa de quantos pontos ela seja vista., essa coisa não é melhor ou pior por dizerem que sim ou que não ou que, ao menos, é um pouco. A coisa é coisa do momento em que nasce ao momento em que deixa de existir (e nunca se soube ao certo quais momentos são esses); coisa e coisa, só. Dor e dor, só. Mas que não se fale nela. Nela, dela ou qualquer coisa que a signifique - Então que não se fale nada, posto que o que quer que seja mencionado é fruto dela. O que vier de mim ou a mim se ainda não a for, será. Indiscutível e inevitavelmente. Um buraco negro que já não faço mais força para me libertar, me deixo sugar, levar. Só porque é um buraco e é negro? Não vivo de preconceitos, vivo de dor. E senti-la faz sentir a vida, a cada pontada sinto meu coração bater, meu sangue fluir e a adrenalina tomar conta do meu corpo. Fico mais desperta. A cada dose fico mais resistente, viciada nessa droga que tem muitos nomes, a qual prefiro não dar nenhum. Uma coisa, dois lados separados por uma linha tão fina que quase se confundem e, ainda assim, considerada duas completamente distintas.
     Gostaria de não ter hora para as coisas, de que as coisas não tivessem hora ou mesmo que as horas não existissem (e não existem, ora bolas!), mas não sou eu quem ditou as regras um dia, nem quem as dita hoje. Talvez, quem sabe, um dia, ditarei; aí, sim, poderei extinguir, com as horas, as suas consequências. Daqui até lá, obedeço a regras que não concordo, criadas por pessoas as quais não conheço, e nada mais. Que me importa mesmo? Que são as horas comparadas com os infinitos instantes que me lembro não te ter?
     Boa noite, talvez. Tristes os sonhos que terei agora, pois, quando acordar, terei certeza de que foram apenas sonhos e sonhos, só, que foram sonhados só e por isso não poderiam ser realidade."

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Momentos de terror! (E o Dono da Tabacaria, de novo?)

     Não, essa não é uma história macabra ou cheia de suspense, daquelas que sua tia avó conta para a sua mãe que aconteceu com a sobrinha de uma camarada dela "...lembra da Clotilde, minha filha? Pois é, coitada!, a sobrinha dela foi assaltada, um horror! Ela disse...". Não. Nem tão assustadora assim (quanto a história ou a conversa da sua tia avó), mas foi um instante tenso que acreditei merecer ter um espaço aqui e ser compartilhado, junto com os outros pensamentos.
     Hoje, quando estava voltando da faculdade, resolvi parar no shopping para comprar algumas coisas que estava precisando e que há quase um mês enrolo para fazê-lo. O fato é que numa daquelas paradas estratégicas (que variam entre 5 minutos corridos e algumas horas deleitosas) numa livraria, me deparei com um tipo de livro que tenho visto aos montes de 1001, 501, 101, 7.563.492 coisas para fazer, ler, comer, visitar, assistir, beber, ouvir - ufa! - antes de morrer; e isso me deixou significativamente angustiada. Não pela morte, mas pela vida, é medo da vida! Já viu absurdo maior?
     Vendo aquela quantidade imensa de afazeres indispensáveis durante a vida aqui na terra, me bateu um sentimento meio desesperado, um medo de não conseguir fazer tudo que pretendo. Quantas vidas mais vou ter que viver para realizar tudo? Porque é tanta coisa! Como conseguir, em uma uma única chance, formação em medicina, arquitetura, cinema, produção cultural, veterinária, design; conhecer outros países e morar em alguns deles; ver todos os filmes da minha lista (ela cresce em PG, eu assisto os filmes em PA); ler todos os livros que me indicam, mais todos os outros que decido ler por mim mesma; voltar a dançar balé, street, aprender dança de salão; me tornar poliglota; descobrir qual o melhor café do mundo; fazer cursos de arte, fotografia...? A pergunta é: como?
     O bom e velho deus que me livre de qualquer angústia ou neurose desnecessárias, sei lá, crise de meia idade em plenos 20 anos. Coisa de menina mimada. Mas como não deixar o indivíduo perturbado com tantas coisas? Tantas imposições feitas. Não por ninguém; imposições minhas para mim mesma. De vontades, de objetivos a serem alcançados. A questionabilidade da plenitude de uma pessoa por viver sem esses fatores extra (?) de satisfação pessoal. É coisa da idade? Sempre ouvi falar que os jovens têm mania de querer fazer tudo ao mesmo tempo, que com o tempo passa. É verdade? Eu acho que não quero que seja coisa de idade, quero dizer, eu não espero, em algum momento da minha vida, parar de querer viver ou querer parar de viver (e não é a mesma coisa). Quem disse que eu quero que passe? Dá pra morrer, se não de amargura, amargurado por causa disso? ...





       


"Supletivo, supletivo..."






     Foi quando meu celular tocou... Ufa! Era "o Esteves sem metafísica ... e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu".
     De novo.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

"...e o Dono da Tabacaria sorriu"

Um dia encontrei um livrinho no quarto de meus pais. Inofensivo, um daqueles pocket, sabe? Pois então, resumindo, inofensivo que era, foi um dos que mais me amarrou até hoje. Passava dias lendo e relendo (e ainda o faço, se tornou parte da minha "cabeceira") e descobrindo aquele cara genial. Toda vez relida, era um novo detalhe (e me pergunto como e possível tanta coisa passar despercebida por nós tantas e tantas vezes?). Fernando Pessoa fez com que eu descobrisse em mim uma paixão desconhecida até aquele momento: poemas.
Esse, Tabacaria, é, talvez (porque nunca se sabe ao certo quais os filme, livro, poema ou música preferidos - nunca consegui definir nenhum desses), o que eu mais gosto. Se possível, leiam, releiam... Ou não, né? É a velha mania de achar que os outros vão gostar só porque a gente gosta. É isso, então. Até a próxima.



    TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
 
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
 
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
 
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
 
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
 
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
 
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
 
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
 
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

 
Álvaro de Campos, 15-1-1928

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Elocubrações de ano - nem tão mais - novo

     Pois é, quem diria, não é verdade? Esta sou eu de volta. Não se sabe por quanto tempo, a regularidade da minha escrita não me deixa mentir, mas de qualquer forma, cá estou.
     Cara, o tempo passa. E passa! Aquela história de "o tempo não para"? Tudo verdade. De repente abri os olhos e, vejam só!, já estamos no final de Janeiro de 2011 (Lula, coitado, foi-se embora que nem vi). E eu não sei dizer exatamente se sou eu ou se é o mundo ou se sou eu e o mundo, mas tudo parece meio repetitivo quando a gente muda. E muda! Mas sabe aquela conversa dita por todos de "ano novo, vida nova"? Falando sério? Tudo mentira.
     Devo dizer até que me irrita um pouco essa hipocrisia generalizada (e saibamos, por favor, separar casos de casos, galhos de bugalhos) durante as datas comemorativas de final de ano. Promessas de uma vida melhor, mais saudável, gentil e sustentável. Até que ponto as resoluções de ano novo são mesmo resoluções ou apenas um costume, muito mais para desencargo de consciência que qualquer outra coisa? Não que eu seja contra qualquer demonstração de vontade de melhoramento próprio, muito pelo contrário, compreendo e, vá lá, até sou a favor; se as pessoas querem ser boas e tentar se redimir dos pecados cometidos, em especial ou apenas, em três épocas do ano (páscoa, natal e reveillon são as favoritas da galera) porque não, não é? Ao menos nessas três, a paz parece falar um pouco mais alto. A minha revolta é contra a limitação do pensamento de uma forma geral no que diz respeito a essa mudança de comportamento que é quase ilusória por ser temporária ou a espera desse tempo futuro próximo para se esforçar em ser mais humano. Quanta tolice, deus! Porque não hoje? Hoje faz um ano novo desde 24 de janeiro de 2010...
     As pessoas falam em "ano que vem eu vou..." fazer, acontecer, mudar, conseguir, brigar, fazer as pazes, dizer que amo, descansar, estudar... Ano que vem, caro leitor, com todo o respeito, não existe. E isso não tem nenhuma relação com o calendário maia e o anúncio do "fim do mundo" em 2012 (pra variar, mal interpretada por quase todos, vale o parêntese). O que quero dizer é que o tempo não existe (eu sei, eu sei, comecei o post dizendo que o tempo não para e agora digo que ele não existe - apelo mais uma vez para o bom senso de cada um) e os indivíduos, nós, continuamos esperando por ele (o tempo, que vem ou não, de acordo com meu raciocínio) para realizarmos o que há de ser realizado ou, até pior, nos realizarmos. É tão absurdo quanto acredito ser?
     Tá bom, eu sei... Faz parte do simbolismo do fim de ano, fechamento de um ciclo, início de outro... Olha... Quer saber?, acho que estou mais que pensando, estou elocubrando e é nessa hora que paro.
     Só queria dizer mesmo, queria que todo mundo lembrasse que cada dia é o primeiro dia de um ano que passou e que a gente tem de aprender a parar de esperar a segunda-feira para começar a dieta.