sábado, 26 de março de 2011

Melancolia de botequim

     A verdade é que não sei como ainda existem leitores desse blog (e existem?). De qualquer forma, continuo tentando honrar aqueles poucos que fazem questão de me prestigiar, aparecendo aqui de quando em vez.
     O texto que segue foi redigido há cerca de dois anos. Não me lembro se tinha algum propósito, se tinha algum direcionamento pessoal, mas (para não variar...) encontrei hoje, boiando por aí e, embora a falta de história ou justificativa da escrita, embora tenha uma carga de drama acima do que considero necessário e/ou suficiente, se fez pensante. E ponto. Não pronto, ponto.


     "Que falar, ó céus, dessa vida - ó vida - de solidão e tortura? A monotonia que dilacera a alma cativa da esperança de um grande amor, um grande desejo. Que será da vida - e maldito seja o que um dia me colocou em seu caminho e, por fim, te colocou e nunca mais tirou do meu coração - sem aquilo que me faz acordar e ainda assim me mantém sonhando? Que será de mim, pobre reles mortal, sem o veneno que somente mata se não o tomo? Que serão dos meus pensamentos, todos, que sem você são tão vazios e insignificantes? Que acontecerá com meus sentimentos que, desde já, murcham em tristeza e melancolia e sofrem por ter de se fazer existir através de lembranças e lembranças só, que corroem ao fato de não voltarem nunca mais?
     E que não se fale da dor... Ela quase não se faz mais presente. Não por falta de vontade de se mostrar, sim porque simplesmente, de tão doída, já se deixou acostumar. Anestesiada por si mesma, protetora da própria fragilidade. Uma dor insensível e revoltosa, que não se aceita na condição de dor (como se tivesse algum dreito de reinvidicar o fato de ser uma dor e não o seu oposto). Às vezes até tenta, mas não se mente aparência, só se tranforma conceitos, não se mudam naturezas; não se muda o que se é. Uma coisa vai ser sempre uma coisa. Não importa como ela venha, não importa de quantos pontos ela seja vista., essa coisa não é melhor ou pior por dizerem que sim ou que não ou que, ao menos, é um pouco. A coisa é coisa do momento em que nasce ao momento em que deixa de existir (e nunca se soube ao certo quais momentos são esses); coisa e coisa, só. Dor e dor, só. Mas que não se fale nela. Nela, dela ou qualquer coisa que a signifique - Então que não se fale nada, posto que o que quer que seja mencionado é fruto dela. O que vier de mim ou a mim se ainda não a for, será. Indiscutível e inevitavelmente. Um buraco negro que já não faço mais força para me libertar, me deixo sugar, levar. Só porque é um buraco e é negro? Não vivo de preconceitos, vivo de dor. E senti-la faz sentir a vida, a cada pontada sinto meu coração bater, meu sangue fluir e a adrenalina tomar conta do meu corpo. Fico mais desperta. A cada dose fico mais resistente, viciada nessa droga que tem muitos nomes, a qual prefiro não dar nenhum. Uma coisa, dois lados separados por uma linha tão fina que quase se confundem e, ainda assim, considerada duas completamente distintas.
     Gostaria de não ter hora para as coisas, de que as coisas não tivessem hora ou mesmo que as horas não existissem (e não existem, ora bolas!), mas não sou eu quem ditou as regras um dia, nem quem as dita hoje. Talvez, quem sabe, um dia, ditarei; aí, sim, poderei extinguir, com as horas, as suas consequências. Daqui até lá, obedeço a regras que não concordo, criadas por pessoas as quais não conheço, e nada mais. Que me importa mesmo? Que são as horas comparadas com os infinitos instantes que me lembro não te ter?
     Boa noite, talvez. Tristes os sonhos que terei agora, pois, quando acordar, terei certeza de que foram apenas sonhos e sonhos, só, que foram sonhados só e por isso não poderiam ser realidade."

5 comentários:

  1. Belo texto, Gabriela. E creio que é assim mesmo este nosso desejo de ter o controle do nosso viver. De controlar as horas ou até de extingui-las. De, como Cronus, poder manipular a passagem (ou permanência do tempo). Por falar no tempo, bem que vc poderia usar um pouco mais dele para escrever e postar essas coisas legais no teu blog...ou pelo menos para procurar os textos perdidos que ficam boiando poa aí (acontece o mesmo comigo). Gosto da maneira como vc escreve e gostaria de poder ler um pouquinho mais . Um abração.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Nossa... Que bacana! Gostei, Gabriela.
    Eu tinha o blog do marido como ponte pra uns outros blogs, incluído o seu, ele resolveu dar um pausa na escrita e eu fiquei sem saber como fazer... Fui no Google e fiquei tentando com algumas alternativas que minha memória permitia lembrar, nada muito útil... "pensamentos gabriela", "pensando na gabriela"... cada coisa, né? Encontrei!

    Bom, agora não perco mais.

    =D

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  4. Que engraçado... Nunca pensei que um dia seria uma "procurada" na internet. Ainda mais por uma pessoa que não conheço pessoalmente (porque vá lá, quem nunca colocou o seu próprio nome na barra de busca do nosso amigo íntimo para ver o que apareceria?); ser verdadeiramente procurada por alguém - que não é a polícia, graças a deus e ao meu bom comportamento social -, ao menos para mim, não é uma coisa que se vê todo dia.
    Preciso dizer que me sinto lisonjeada com isso, e agradeço sinceramente. Que bom ter você como leitora, Bianca! =)
    E Jorge, prometo me esforçar mais e organizar minha vida de forma a aproveitar melhor esse espaço aqui. Ele é sem fim mas não precisa ficar abandonado, não é mesmo? Obrigada pelos comentários (interessantes) sempre presentes. Até o próximo post!

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  5. "O poeta é um figidor
    Finge tão completamente
    Que chega a fingir que é dor
    A dor que deveras sente."

    E uma vez queriam me convencer que não havia motivo pra sentir dor: não nasci com problemas de saúde, as finanças nunca deixaram faltar nada embora nunca tenha sido nada fora dos padrões, família estrutrada, boa educação... mas algo estava incompleto... e queriam medir o tamanho da dor, que a minha dor deveria ser muito menor que a de alguém que não tinha o que tenho. Será que esse é o parâmetro? De alguma fora, continuo pensando que não...

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