segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quer maior verdade que o dizem os clichês?

     É verdade, eu vou escrever sobre isso. Me esforço para resistir há dias, me reprimi pela falta de originalidade. Lutei contra esse instinto de querer exclamar esse assunto que (não sei se fe ou infelizmente) ainda tenho em mim, mas não foi possível. Hoje, é improvável, se não impossível, não falar sobre política. E não preciso citar o período, muito menos o próprio dia, de eleição.
     Aviso desde o começo: serei clichê, não direi nada além do já sabido e minhas indignações parecerão vulgares... Não porque nasceram assim, mas porque em algum momento a sociedade (sim, sim, todos nós) a transformou em algo que não se põe mais valor.
     A gente passa a vida (e digo isso da minha vasta experiência de 20 anos incompletos) ouvindo os outros falarem que o governo não presta, que a política é um verdadeiro cagaçal e que nunca vai deixar de ser essa sujeirada que é. Quero dizer, uma criança, adolescente em formação acredita nessas coisas. Acredita no que todos falam porque, antes de tudo, é um indivíduo em formação, é uma esponja em potencial que absorve o que está ao seu redor. Por mais que essa criatura tenha um senso crítico avançado para sua idade fisiológica e mental, não há de contrariar tudo que aprendeu desde que nascera. Tive uma professora, daquelas que você admira até o espirro, que disse isso uma só vez e nunca mais esqueci: "a língua é a primeira forma de alienação do indivíduo". Ninguém que nasce e cresce no Brasil escolhe ter como primeira língua o japonês. Ninguém que se desenvolve nesse mesmo país tem como idéia de política o que ela realmente é ou a vê como uma coisa boa, uma fonte de melhoria de vida da população, de garantia dos seus direitos e exigência dos seus deveres. Como dizem por aí, muito pelo ao contrário, a tendência é dar continuidade a essa forma limitada do pensamento.
     Como é, então, que as pessoas vão acreditar no exercício da sua cidadania? (Quando foi que elas começaram a desacreditar dela? Não houve o tempo em que a população ia às ruas brigar por isso? A partir de que momento nos tornamos tão acomodados?) Como é que elas vão parar de fazer piada sobre seus candidatos e do possível bom caráter deles se foram programadas para enxergá-los como fonte de contradição e corrupção permanente? Quero dizer, quem não acompanhou a gargalhada da platéia na fala da candidata Dilma no debate transmitido pela Rede Globo? Não é a veracidade do que ela disse que está em questão, é a postura do indivíduo brasileiro frente a algo que é tão importante e que deve ser levado tão a sério e no entanto está aí, vítima de chacota em escala nacional. A ética virou utopia, seguir algum tipo de ideologia não faz mais sentido, é quase antiquado.
     Hoje não soube o que dizer quando ouvi meu avô falar na mesa durante o almoço: "Mas não dá certo votar em fulana... Ela é muito certinha, não funciona se for assim". As pessoas não acreditam mais em si, quanto mais no outro. E por isso vão deixando as coisas acontecerem, permitindo, por exemplo, que a filosofia do famoso jeitinho prevaleça sobre qualquer ciência da formação das idéias, assim, explicitamente. "Fazer o quê, né?" A gente reclama dos políticos, maldiz governantes e dirigentes do que quer que seja, amaldiçoa deus e o mundo pelas misérias alheias e as suas próprias, mas no momento de agir, na hora do "vamo ver", quando chega o dia de mostrar a vontade de transformação e fazer a sua própria parte nos tornamos tão ignorantes e arrogantes e desrespeitosos quanto aqueles que pregamos contra. Porque será? Mera coincidência? Não, não... Não existem coincidências; existem causas e consequências.  Políticos corruptos são consequência de uma sociedade corrompida e a permanência deles no poder é ausência de resposta da população para com tudo isso. Causa e consequência; a estagnação da sociedade como um todo como resposta da inércia dos cidadãos que a constitui. Enquanto formos educados a nada, os maus modos reinarão. Será tão difícil ver isso? Será tão óbvio que não vale a pena mostrar?
     Eu prefiro me passar por inocente e acreditar que tudo isso faz algum sentido, tem algum propósito, manter a minha filosofia de vida e me fazer presente, por mais sozinha que esteja, em todas as oportunidades que me são oferecidas, a ser mais uma desacreditada na vida e nas pessoas. E espero me manter assim até morrer, e, enquanto viva, vou transmitir a idéia de que política séria não é utopia. Meus filhos vão crescer ouvindo falar do valor da política, vão ser educados para acreditar no poder que o homem tem sobre a própria vida e nas repercussões das suas atitudes no meio em que vive. Tem um bocado de coisa errada por aí. Consciência, educação, senso crítico, hoje? Coisa rara. Quando a gente acha que já se viu de tudo, aí está a vida para provar que ainda tem muito mais por vir. Mas me recuso a aceitar essa proposta de mundo de forma tão passiva, ser mais uma entre tantos acomodados e e me anular, em corpo como indivíduo pensante e em voto como cidadã atuante.

3 comentários:

  1. OLÁ TUDO BEM,GABRIELA?

    A crônica de humor no meu blog desta semana é sobre adultério em família!

    O tema é bastante atual.

    Leia abaixo, um trecho e caso goste, vá até ao meu blog.

    Combinado?

    INIMIGOS CORDIAIS

    Nunca se deram , porém como manda a boa norma de convivência social, suportavam-se pois, eram cunhados e assim deveriam caminhar as coisas, com elegância e sem maiores baixarias.

    João Pedro e José Paulo eram os inimigos cordialíssimos e nos seus nomes traziam a imagem de quatro dos apóstolos de Jesus.Mais uma razão para não semearem sobre a terra o ódio, nem a luta fratricida entre famílias, pois afinal:”Ama a teu próximo, assim como vos amei” é a máxima filosófica do grande mestre que não poderia ser contrariada , de forma tão aviltante.

    Porém,o inesperado fez uma surpresa numa festa de aniversários de um dos filhos de João Pedro , na qual José Paulo encheu a cara de manguaça, exagerou no combustível etílico e ficou muito doidão...



    ENTÃO É ISSO AÍ!

    UM ABRAÇÃO CARIOCA

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  2. Olá Gabi! Muito bom saber que temos um novo espaço do pensamento na blogosfera. Um grande beijo!

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  3. É um bom caminho o da indignação e o da cidadania ativa. Muitos preferem se encaixar no perfil do analfabeto político de Bertold Brecht, um dramaturgo, poeta e socialista alemão do século passado. Em seu poema ele dizia assim (espero que vc goste, se é que já não o conhece):

    Analfabeto Político

    O pior analfabeto é o analfabeto político./ Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos./ Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio/ dependem das decisões políticas.

    O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política./ Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política,/ nasce a prostituta, o menor abandonado,/ e o pior de todos os bandidos,/ que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

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